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A genética de L. vannamei no Brasil e no mundo

Há cerca de 5 anos iniciamos nossos estudos em genética de camarão. Nesta época, eram praticamente inexistentes estudos ou mesmo pesquisadores que se interessavam por essa abordagem nesse grupo animal no Brasil. Atualmente, já é possível contar algo em torno de duas dezenas de pesquisadores, distribuídos em diferentes laboratórios, que começam a qualificar o Brasil entre os países que contribuem para o conhecimento genético de camarões. São ainda bastante raros os estudos genéticos em nossos camarões nativos. Num desses poucos, Gusmão e Solé-Cava (2000) concluíram uma análise do DNA mitocondrial, que comparou o gene da citocromo oxidase das espécies de camarão que se distribuem na nossa costa e identificaram duas possíveis espécies crípticas no grupo morfológico Farfantepenaeus subtilis. Num segundo estudo, Sanchez (2001) caracterizou parcialmente a seqüência de nucleotídeos do hormônio da muda do camarão Farfantepenaeus paulensis.

Motivados pelo avanço do cultivo da espécie exótica L. vannamei na costa brasileira, os estudos genéticos atuais concentram-se nessa espécie. Um conjunto de estudos utilizando diferentes marcadores moleculares multilocos, como VNTR (Freitas, 1999; Freitas e Galetti, 2002a) e RAPD (Calgaro, 2002; Freitas e Galetti, 2001), permitiu um importante diagnóstico da variação genética encontrada nos diversos plantéis de reprodutores de L. vannamei que já se encontram em domesticação, nos diferentes laboratórios de produção de larvas, em vários estados a federação (Freitas et al., 2001). A comparação das distâncias genéticas entre esses plantéis já possibilitou orientar cruzamentos para o estabelecimento de linhagens nesses laboratórios. Esses estudos estão sendo ampliados (Freitas e Galetti, 2002b; Francisco e Galetti, 2002) e espera-se, a curto prazo, conhecer-se toda a estrutura genética das populações (ou linhagens) de cultivo de L. vannamei atualmente disponíveis no Brasil, formando uma base de orientação de cruzamentos para uma exploração geneticamente sustentável desses plantéis. Uma importante conseqüência desses estudos é o monitoramento da variação genética ao longo da domesticação, a qual estamos verificando que sofre uma significante redução numa linha de endocruzamento submetida à seleção massal (Freitas e Galetti, 2001).

No contexto da genômica e na busca de marcadores mais eficientes para os estudos populacionais, estamos desenvolvendo um extenso trabalho de prospecção e caracterização de seqüências microssatélites. No momento, já possuímos alguns microssatélites validados e iniciamos investigação de seu polimorfismo (Jesus e Galetti, 2002). Os marcadores microssatélites vão ser extremamente úteis para estudos de mapeamento físico do DNA que abrirão a possibilidade de uma futura seleção assistida por marcadores em programas de melhoramento genético.

Os estudos genéticos em camarões de cultivo também são mais freqüentes em outros países, e muito tem sido analisado sobre a variação genética identificada por marcadores moleculares (Dhar et al., 2000; Alcivar-Warren, 2001; Xu et al., 2001) ou analisada pelos caracteres fenotípicos do animal (Benzie et al., 1997).

Há, entretanto, poucas referências sobre seqüenciamento do genoma de camarões pelo mundo. Numa parceria entre o Australian Institute of Marine Science e o Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation da Austrália, está em andamento o genoma EST da espécie Penaeus monodon, comumente cultivada naquele país. Até o presente, algumas centenas de ESTs já foram isolados e encontram-se listadas na página www.aims.gov.au/pages/research/shrimpmap/pages/sm-00.html. Outras espécies de peneídeos também já possuem algumas seqüências ESTs isoladas e caracterizadas, como Litopenaeus setiferus (Barttlett et al., 2002) e Marsupenaeus japonicus (citado na página indicada acima).

Sobre L. vannamei, há também algumas citações de isolamento de ESTs a partir de bibliotecas de diferentes tecidos (Dhar et al., 2000; Alcivar-Warren, 2001; Bartlett et al., 2002). Em Alcivar-Warren (2001) são citadas cerca de 700 seqüências ESTs obtidas em camarões desafiados para a doença virótica TSV. Vê-se, portanto, que a genômica dos peneídeos já tem despertado o interesse de diversos pesquisadores, mas que há muito por fazer, considerando o tamanho do genoma desses animais e as poucas ESTs até agora descritas. O esforço concentrado que caracteriza a rede do genoma camarão ora proposto irá, em muito, representar o maior aporte de conhecimento de ESTs desses animais já realizado.


 

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